O que fazer em Salvador: jornalista local dá 10 dicas para curtir a capital baiana
Há 32 anos, eu moro onde a maior parte do Brasil passa (ou quer passar) férias. O soteropolitano já acostumou-se em usar esse argumento para defender a cidade em que nasceu.
Salvador, de verdade, tem atrações para boas férias em qualquer período do ano. Se você quer aproveitar uma Salvador quente, exuberante e festiva, venha no alto verão, entre dezembro e fevereiro, mas saiba que desde o final de agosto as chuvas dão uma trégua e a primavera aqui é linda, com flamboyants, caraibeiras ipês, tabebuias e sibipirunas inteiramente floridas de vermelho e amarelo.
E mesmo entre abril e julho, os meses em que mais chove, é possível aproveitar dias ensolarados e temperaturas amenas. Confira neste artigo um roteiro com 10 atrações imperdíveis e uma dica de hospedagem para ficar bem localizado na cidade, que é a quarta maior do Brasil (e única no mundo).
Prepare suas malas e venha descobrir que “basta um sorriso e um tempero baiano pra gente entender… o que é que a Bahia tem”
1. Visite a famosa Igreja do Bonfim e a colina sagrada
Quem quer saber o que é uma festa de largo tem de chegar em Salvador no início do mês de janeiro. Em uma das quintas-feiras do mês, anualmente, baianos peregrinam oito quilômetros desde a Igreja da Conceição da Praia até a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.
O cortejo, misto de celebração sagrada e profana, é comandado por baianas com trajes típicos – turbantes, saias engomadas, braceletes e colares – que carregam vasos com água de cheiro, uma mistura de ervas e perfume de alfazema. Todos se vestem de branco, que é a cor de Oxalá, orixá sincretizado com Senhor do Bonfim. Aqui, se diz que “quem tem fé vai a pé”.
Mas mesmo fora da data, a colina, onde fica a Igreja, merece a visitação. Recentemente reformado, o largo tem boa iluminação, bancos para descanso e um mirante em que é possível subir e fotografar em um ângulo tão imponente quanto a basílica. Nas laterais, há antigos painéis de azulejos portugueses. Vale – muito! – subir na torre da igreja.
Quem vem à Sagrada Colina estica o passeio, obrigatoriamente, para almoçar uma boa moqueca na Pedra Furada. É esse o apelido de uma ladeira no Mont Serrat famosa pelos seus restaurantes. O mais conhecido é o Recanto da Lua Cheia, que é amplo e costuma ter música ao vivo.
2. Conheça a casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, no Rio Vermelho
O melhor da Bahia são as pessoas. E entre tantos anônimos originais, há artistas que, com vida e obra, ajudaram a construir o que chamamos de baianidade. O casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai são exemplos desse espírito local mais despojado e inventivo.
No Pelourinho, há a Fundação Jorge Amado, um museu dedicado totalmente ao escritor. Mas a vida íntima dos escritores está mesmo na casa que viveram, criaram os filhos, escreveram os livros e onde estão suas cinzas. A casa fica na Rua Alagoinhas, 33, no Rio Vermelho. Ela funciona de terça a domingo, de 10h às 17h (sempre confira antes). Crianças menores de 6 anos não pagam.
3. Preta, pretinha: prove as delícias deste restaurante na Ilha dos Frades
O Restaurante Preta é a tradução exata do luxo despretensioso da Bahia. Agora na Ponta de Nossa Senhora, na Ilha dos Frades (antes ele funcionava na Ilha de Maré), as panelas da fotógrafa e cozinheira Angeluci Figueiredo, a Preta, têm um cardápio rico em frutos do mar, com peixe frito, moquecas e mariscadas.
O espaço é um charme a parte. A decoração é linda e super “instagramável”. Experimente de entrada o prato Inveja Mata: tentáculos de polvo na chapa com legumes, azeite aromatizado e crocante. De prato principal, vá de Majestade. O prato para duas pessoas é uma moqueca de camarão com polpa de coco verde, pequenos pedaços de fruta pão, farofa de banana com tapioca, feijão verde e arroz e pode ser acompanhado por caipiroscas de frutas da estação.
4. Aproveite estes barzinhos em um reduto histórico
Se você quer ficar longe do circuito turístico e perto dos baianos, vale passar uma noitada no Largo Dois de Julho. O nome do largo é também o nome do bairro e da mais importante data política local: a Independência da Bahia.
De dia, o espaço é uma das feiras de frutas e verduras mais importantes do Centro de Salvador. Mas é à noite, nos bares, que a boemia local toma conta. Lá as opções de cerveja gelada ficam no Mocambinho, no Bar do Nó.
5. Tome um banho de mar na "mais nova" praia de Salvador
Salvador tem excelentes praias urbanas. Quer banho de mar gostoso e esportes como stand-up e caiaque? Então se jogue no já consagrado Porto da Barra. Quer uma praia outsider com público jovem? Vá na Praia do Buracão. Deseja badalação? Tem que ser na Praia de Aleluia. Se estiver com crianças e tempo de sobra no meio da semana, pegue uma praia em Itapuã ou na orla da Boa Viagem.
Mas se você quer uma novidade… conheça a recentemente frequentada Prainha do Solar do Unhão. Ela despontou no verão 2019 e tem tudo para ficar ainda mais famosa.
Mas, afinal, o que ela tem? Primeiro que a praia fica dentro do maior museu da cidade, o MAM-Ba (Museu de Arte Moderna da Bahia). O acesso à pequena baía se dá pelo Parque das Esculturas, galeria ao ar livre que abriga obras de Carybé e Mário Cravo. Os banhistas podem permanecer no local das 8h às 18h, horário de encerramento das atividades do museu.
6. "Bata perna" na maior (e mais famosa) feira da cidade
É da Feira de São Joaquim, antigamente chamada de Água de Meninos, que vem todos os sabores de Salvador. É lá que os restaurantes cinco estrelas da cidade adquirem seus ingredientes. É onde as baianas também compram os insumos de seus tabuleiros e onde as mães das grandes famílias vão comprar o quiabo, o camarão seco e o dendê para os almoços fartos de seus domingos.
O local é um tanto caótico, como qualquer feira. Mas se você, como eu, acha que são nos mercados (verdadeiramente) populares que está a essência de qualquer cidade, vá conhecer a Salvador profunda e autêntica que se esconde dentro dela.
Converse com os feirantes, adquira o artesanato do Recôncavo Baiano (lindas peças de barro e argila vindas de Maragogipinho), compre pimentas (lá também tem as de cheiro, que são aquelas que não ardem), ervas e guias de orixá. Não se espante com a quantidade e diversidade de bichos vivos. Finalize na parte nova da feira, que foi reformada e tem comida boa e barata.
7. Visite o MAFRO e contemple as obras de Carybé
Colares de contas, figas e painéis. O MAFRO – Museu Afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia é uma viagem ao tempo em que as águas do Atlântico trouxeram povos escravizados e, junto com eles, parte da cultura dos países africanos materializada em inúmeras obras de arte e objetos expostos no museu.
É imperdível contemplar os 27 painéis criados por Carybé, que representam os orixás do candomblé. Eles são a “Monalisa da Bahia”. O artista plástico argentino radicou-se na Bahia e criou inúmeras obras a partir do sincretismo afro-brasileiro.
Também fazem parte do acervo cerca de 200 objetos que pertenciam ao terreiro Ilé Osùmàrè Aràká Àse Ògòd, apreendidos em 1922, num período de grande perseguição aos cultos de religiões de matriz africana.
8. Dê um mergulho no Porto da Barra
Menos de 400 metros de faixa de areia: a praia mais bonita da cidade é pequenininha, tem o banho de mar mais gostoso e traduz o doce “fazer nada” do baiano. Ela é muito frequentada aos sábados, domingos e segundas, quando muita gente que trabalha no fim de semana ganha folga.
Para encontrar um bom lugar no seco, chegue cedo. Na maré baixa, há mais espaço na faixa de areia. Para ter uma visão bonita da praia, de ponta a ponta, nade até os barquinhos que ficam ancorados. Se você tem prática com esportes náuticos, vale experimentar o stand-up paddle ou dar uma volta de caiaque.
9. Vá em uma missa com tambores na Igreja do Rosário dos Pretos
Salvador tem uma igreja para cada dia do ano, diz o ditado popular. Sendo assim, fica difícil não indicar somente um templo. Mas quem escolher visitar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, ganha uma benção e uma aula de história.
Isso porque a igreja foi construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, um grupo religioso formado por negros escravos e alforriados que tinham muita devoção por Nossa Senhora do Rosário. De forma lenta, eles edificaram o local sagrado que hoje tem, em sua liturgia, músicas inspiradas na tradição afro-brasileira do candomblé. A missa ao som dos atabaques que acontece toda terça-feira, às 18h30, e todo domingo, às 10h, é de arrepiar.
10. Conheça esta mistura de dança e combate
Nada reúne tantos elementos da influência africana em solo baiano quanto uma roda de capoeira. A música executada por tambores e berimbau é ritmada ao som das palmas. A dança tem movimentos rápidos e ágeis, que lembram uma luta. Qualquer um pode entrar na roda e desafiar um dos dois lutadores no centro do grupo.
É preciso apenas observar o movimento dos corpos e escolher a melhor hora de entrar. Além das rodas que se formam nas ruas da cidade, é possível participar de aulas em associações espalhadas principalmente pelo Centro Histórico.A capoeira tem nomes importantes, como mestre Bimba (1899-1974), que ajudou a criar a capoeira regional, um dos segmentos da dança.
E MAIS: nossa dica de onde ficar em Salvador
O Corredor da Vitória é o trecho mais bonito e arborizado da Avenida Sete de Setembro, que corta a parte central de Salvador. Lá, há alguns hotéis, mas a única pousada da região se destaca pelo serviço.
A Casa da Vitória fica no sobrado branco localizado em uma das ruas sem saída que são transversais. A charmosa pousada oferece um ambiente tranquilo e silencioso, bem perto das principais atrações. São sete quartos, com banheiros privativos e ar condicionado. O destaque fica por conta do café da manhã cinco estrelas, servido individualmente com um cardápio que varia a cada dia, com fartura de sucos, frutas, bolos e produtos regionais como tapioca e mingaus.