Quem entra no Hotel Jaraguá hoje em dia, logo de cara, não percebe que está em um lugar histórico. Apesar das pistas exteriores – arquitetura modernista típica dos anos 50 e um painel original de Di Cavalcanti em plena fachada –, o lobby do atual Novotel São Paulo Jaraguá Conventions combina com o novo nome: um hotel para viagem de negócios.
Mas, depois de fazer o check-in, basta caminhar um pouquinho mais até o bar que fica ao fundo do saguão para se deparar com uma galeria de fotos com as celebridades que se hospedaram por ali entre os anos 50 e 70, época em que o hotel foi parada obrigatória para grandes personalidades que marcaram a história do século 20.
Prepare o fôlego que a lista é grande: Alain Delon, Ella Fitzgerald, Sophia Loren, Federico Fellini, Brigitte Bardot, Louis Armstrong, Gina Lollobrigida, Edith Piaf, Tony Curtis, Ginger Rogers, Mick Jagger, Henry Ford II, Robert Kennedy, Fidel Castro, Yuri Gagarin, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros estão entre os que ou se hospedaram, ou frequentaram o famoso bar do hotel.
Mesmo que não conserve a mesma aura de glamour de 1954, ano em que foi inaugurado com uma grande festa, o atual Hotel Jaraguá, reformado em 2004, é uma das melhores opções de hospedagem para quem quer curtir o centro de São Paulo com olhos de turista: instalações novas, quartos modernos, academia, bar, restaurante e vistas incríveis para a selva de pedra paulistana – embora nem todos os quartos contem com essa vantagem.
O Jaraguá foi inaugurado em uma época em que São Paulo celebrava seus 400 anos e transpirava prosperidade, como nos contou Caio Calfat, autor do livro Hotelaria e Desenvolvimento Urbano em São Paulo:
“A prefeitura e o governo do Estado ofereceram isenção fiscal para os hotéis que fossem inaugurados na celebração do quarto centenário de São Paulo, e assim surgiram também o Hotel Ca’d’Oro e o Othon Palace. O Jaraguá assumiu então a posição de melhor hotel da cidade, que até 1954 tinha sido do Hotel Esplanada, inaugurado em 1923.”
Rainha Elizabeth II em sua passagem por São Paulo em 1968.
O rei do jazz, Louis Armstrong, no Hotel Jaraguá.
O cosmonauta soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a viajar pelo espaço.
Rainha Elizabeth II em sua passagem por São Paulo em 1968.
O rei do jazz, Louis Armstrong, no Hotel Jaraguá.
O cosmonauta soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a viajar pelo espaço.
O prédio foi originalmente projetado para abrigar o jornal O Estado de São Paulo, a Rádio e o Estúdio Eldorado, que ocupariam os primeiros oito andares. Os demais pavimentos seriam alugados para escritório, mas o hoteleiro José Tjurs se interessou pelo projeto e decidiu instalar o Hotel Jaraguá do 9º ao 23º andar. Foi um ano histórico, como conta Caio Calfat:
“A celebração do centenário durou o ano todo. Através desse evento, São Paulo se apresentou para o mundo como a grande metrópole que veio a ser. Até então, era uma cidade que tinha passado de agrícola para industrial. A pujança de São Paulo foi junto com a verticalização. Daí a importância dos hotéis.”
Naqueles anos intensos para a capital paulista, entre as décadas de 50 e 60, a abertura da nova sede do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1968, foi um dos grandes acontecimentos. Nada menos que a Rainha Elizabeth II da Inglaterra foi convidada para a cerimônia de inauguração.
Onde se hospedou a Rainha Elizabeth II?
O Hotel Jaraguá se orgulha de ter recebido a monarca durante os dias em que ela passou pela capital, mas também há muitos registros de que ela teria se hospedado em outro hotel símbolo da época, o Othon Palace.
Para o autor do livro Hotelaria e Desenvolvimento Urbano em São Paulo, a resposta pode ser nem um, nem outro: “A equipe que acompanhava a rainha ficou hospedada no Othon. Mas a rainha mesmo deve ter ficado no Palácio do Governo”.
O Estadão ocupou parte do prédio até os anos 70, dando lugar depois ao Diário de São Paulo, época em que o hotel entrou em declínio, vítima da migração de toda a capital para a região da Avenida Paulista. Empresas, bancos e setores corporativos começaram a rumar para a nova região de negócios, trazendo consigo novos hotéis, como o Maksoud Plaza, e marcando a decadência dos hotéis do centro. O fechamento do Jaraguá viria em 1998.
O novo Jaraguá
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Depois um investimento de R$ 40 milhões e dois anos de obras, o novo Jaraguá abriu as portas em 2004, com projeto de Miguel Juliano, que demoliu seis pilares de concreto do térreo para a criação de uma rua dentro do hotel.
Um dos destaques da nova decoração é o carpete, uma projeção cubista do painel externo de Di Cavalcanti (foto abaixo). A artista Sonia Miller projetou uma grande escultura que fica na recepção e o mural original de Clóvis Graciano foi restaurado. Para completar, o icônico relógio que fica no topo do edifício também passou por um longo processo de restauração.
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Foto:
Arte Fora do Museu CC BY 2.0[/caption]
As boas opções gastrônomicas ficam por conta do Bar 365 e do Restaurante 365. O Jaraguá fica a uma distância a pé de alguns dos lugares mais tradicionais do Centro – como o Bar Estadão, a Biblioteca Mário de Andrade e o famoso terraço do Edifício Itália – e também de lugares que voltaram à moda, como a Praça Roosevelt, cercada pelos principais teatros de dramaturgia experimental da cidade. Ou seja, apesar de projetado para o turismo de negócios, o novo Jaraguá funciona perfeitamente para quem está atrás da agitada vida cultural do Centro.